Rei de Portugal - 1211-1223
Terceiro rei de Portugal, filho de D. Sancho I e de D. Dulce , filha de Raimundo de Berenguer , conde de Barcelona, nasceu em Coimbra em 1185, morreu a 25 de Março de 1223. Foi aclamado, por falecimento de seu pai, em Março de 1212. Sancho I, aterrado e enfraquecido perante a morte, deixara um testamento que era bastante desfavorável à corôa, por demasiado generoso com o clero e com os infantes e infantas. Afonso lI, porém, precisava da Igreja, e, por isso, o primeiro acto importante do reinado foi a convocação de Côrtes em Coimbra, onde se promulgou, como lei do reino, aquilo que Sancho I concedera ao clero como um privilégio, e ainda mais. Esta extrema condescendência do monarca para com os eclesiásticos não podia ser sincera, porque equivalia à condenação de factos do reinado anterior, em que ele próprio tivera parte, e porque era contrária aos interesses da realeza; significava, apenas, um adiamento do conflito com os eclesiásticos, imposto pela necessidade de entrar imediatamente em um outro: o determinado pelas cláusulas do testamento, relativas a seus irmãos. Admitira êle, de má vontade, os amplos legados que Sancho I deixara aos outros filhos, não só aos legítimos, mas ainda aos bastardos. Negou, pois. aos irmãos, até a parte pecuniária que Ihes era destinada. Daí, o descontentamento o infantes D. Pedro , que saíram do reino e foram oferecer os seus serviços, o primeiro, à côrte de Leão, o segundo, à de França. Livre dos irmãos, tratou o soberano de ajustar as suas contas com as irmãs: D. Teresa , a quem ficara o senhorio de Montemor e Esgueira, D. Sancha, a quem cabia o de Alenquer, D. Mafalda , a quem pertencia o padroado dos mosteiro de Arouca, Bouças e Tuyas. D. Afonso II contestou o direito, em virtude do qual seu pai instituíra estes legados. D. Mafalda absteve-se de demandas e pleitos, cedendo os títulos à herança em favor da Ordem dos hospitaleiros, reservando para si o usufruto; D. Teresa e D. Sancha, porém, sustentaram os seus direitos, e invocaram o auxílio dos cavaleiros, já descontentes com o rei. A Ordem dos Hospitaleiros, representante de D. Mafalda, apelou para o papa. D. Afonso aceitou o juiz e enviou um agente para advogar a sua causa; mas, como medida de precaução, foi-se apoderando das propriedades em litígio. Com os mosteiros não teve dificuldades, mas os castelos tomaram atitude hostil, e D. Afonso desistiu dos seus intentos. D. Teresa e D. Sancha, senhoras dos seus Castelos, responderam com altivez às pretensões do seu irmão, e viu-se este obrigado a conformar-se com menos exigências, reclarnando tão só o direito de nomear alcaides dos castelos e deixando às infantas o usufruto dos rendimentos; as irmãs, porém, recusaram, e chamaram em seu auxílio os cavaleiros portugueses foragidos em Leão. Por êsse tempo, D. Afonso II como os demais reis cristãos da Península, era convidado por D. Afonso VIII de Castela, a auxiliar a Espanha na guerra contra os muçulmanos. O monarca acedeu e mandou em socorro o melhor do seu exército. O rei leonês Afonso IX , recusando entrar nessa coligação, aproveitou a oportunidade para adquirir algumas terras. Ao mesmo tempo os foragidos que tinham tomado a defesa das infantas, pediram-lhe auxí!io e derrotaram as poucas forças que lhes podia opor agora o rei de Portugal. Com a vitória das Navas de Tolosa, em que foram derrotados os muçulmanos, viu-se D. Afonso IX obrigado a maior moderação, porque já então Portugal lhe podia resistir com as tropas vitoriosas; por outro lado, D. Afonso VIII de Castela não se mostrava bem disposto para com o parente, que o havia abandonado na hora do perigo. A luta de D. Afonso II com as irmãs ainda durou longo tempo. O papa decidiu que o domínio das terras ficaria pertencendo ao rei e os rendimentos às )infantas. Para isso, foi preciso que Portugal pagasse 28 anos atrasados do censo em que D. Afonso I fizera o reino tributário de Roma, e que só se pagara quando os reis precisaram da Cúria. D. Afonso II era enérgico, mas não tinha o ardor guerreiro que seus pai e avô sempre mostraram. Contra o costume da sua época, as suas tropas combateram sempre sem ver o rei à sua frente, a quem interessava mais consolidar e fortalecer o poder régio do que dilatar territórios. Em 1217. ajudados pela cruzada do rei da Hungria, ordenada por iniciativa do papa Honório III, pela expedição dos condes de Holanda e de Withe, que arribara a Lisboa e pelos cavaleiros das Ordens militares, os quais acudiram ao chamamento dos bispos de Lisboa e de Évora, os portugueses puseram cêrco por mar e por terra a Alcácer do Sal, que os muçulmanos haviam retomado. A luta foi renhida, até que, ao cabo de dois meses, se rendeu a praça, a 18 de Outubro. Apartado dêsses sucessos guerreiros. D. Afonso percorria, entretanto, o reino, fazendo confirmações, quere dizer, confirmando as doações feitas pelos reis seus antecessores, sem o que Ihes não reconhecia validade. Este princípio, estabelecido pelo rei e imposto pela sua energia aos altivos fidalgos, foi o mais rude golpe no feudalismo, tornando-o absolutamente impossível. Até então. D. Afonso precisara da Igreja, nas lutas contra as irmãs; agora, porém, já se achava menos dependente. Impunha a todos os súbditos, tivessem ou não imunidades eclesiásticas, a autoridade real; exigia tributos do clero, obrigava-o a comparecer nos tribunais civis e lançava as bases do princípio de desamortização, proibindo que as igrejas e os mosteiros fôssem adquirindo novas terras. O arcebispo de Braga fulminou D. Afonso com a excomunhão. A isto respondeu o rei ordenando aos seus guerreiros que devastassem as terras do arcebispo, e permitindo aos burgueses de Braga o apoderarem-se delas. O arcebispo fugiu para Roma, apelando para o papa, que excomungou o soberano, ameaçando-o de lhe tirar o trono e desobrigar os seus súbditos do juramento de fidelidade. Martim Sanches, bastardo de D. Sancho I, que estava ao serviço de Leão, governando os distritos de Toronho e Limia, fronteiros de Portugal, aproveitou as circunstâncias para invadir vitoriosamente a província do Minho; o rei de Leão apossou-se de Chaves, as infantas fizeram renascer as suas pretensões. Em pouco tempo. acendia-se por tôda a parte a guerra. Por essa época, começaram as suas prédicas de propaganda às ordens dominicanas e franciscanas, recentemente fundadas, com o fim de reformar os costumes monásticos, então já muito dissolutos. O clero e o povo fanatizado, viam-nas com maus olhos, mas D. Afonso permitiu a continuação dessas missões. Apesar de tantas complicações e dificuldades, D. Afonso ordenou, em 1220, as inquirições sôbre os direitos territoriais, injustificados, mas tolerados, para evitar males maiores, pelos dois monarcas precedentes. Nos últimos tempos da sua vida, começaram as negociações com a côrte de Roma para se resolver a questão entre o rei e o arcebispo de Braga, mas estas não chegaram a concluir-se, em virtude do falecimento do soberano. Quase nas vésperas da sua morte, permitiu D. Afonso que o arcebispo voltasse para o reino. O papa levantou--lhe as excomunhões. D. Afonso 11 casou, em 1208, com D. Urraca. filha de D. Afonso VIII de Castela. Faleceu em 25 de Março de 1223. Está sepultado em AIcobaça.
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