«homem discreto e de grandes espíritos, muito valente de sua pessoa e tão destro nas armas», que estando no «mês de Julho de mil e quinhentos e setenta e quatro em Lisboa, entrando um dia na escola da esgrima do mestre João de Bovadilha um alemão muito alto de corpo e gentil homem, desafiando toda a escola de espada e adaga, e ferindo a três ou quatro que saíram a esgrimir com ele, de modo que o mestre ficou afrontado, e dando conta disso ao dito Gaspar do Rego de Sousa, dizendo lhe que o alemão havia de tornar à escola o domingo seguinte, por desafrontar o mestre, o esperou aquele dia Gaspar do Rego de Sousa na escola, e indo a ela o alemão, levando consigo seis ou sete e um moço que era sua língua, para o verem jogar as armas, e entrando, pôs-se no campo a espada e adaga, à qual ele logo arremeteu, e tomando Gaspar do Rego outra espada e adaga, e estando já avisado que o alemão jogava muito rijo e não guardava nenhuma cortesia no jogo, começaram a batalha; atirando-lhe o alemão um altibaixo rijo, Gaspar do Rego se meteu debaixo e amparando-se com a espada lhe deu uma adagada debaixo de um braço, e tornando em outro tempo, lhe deu com a maçã da adaga outra de trás da orelha, de que saiu muito sangue, depois outra na garganta e por fim, outra acima da sobrancelha, fazendo-lhe outra grande ferida de que saiu muito sangue; o que vendo seus companheiros, tomaram espadas brancas e Gaspar do Rego tomou também a sua, já todos alvoraçados para brigarem, mas os que estavam na escola apartaram a briga, maravilhados todos da desenvoltura do dito Gaspar do Rego de Sousa» (Frutuoso, Livro IV, t. 1, pág. 247)